Dizem que o mais difícil é começar. Não há como fugir a isso! O início era dar o primeiro passo para preencher a candidatura para aquela que me parecia uma viagem inalcançável. De um questionário dependia a vontade de querer dar mais e abrir os horizontes, mas ultrapassei o primeiro obstáculo! Depois deste, veio a entrevista e a derradeira prova: ser escolhida como uma das 20 participantes para o programa sobre empreendedorismo Social. Quem diria que fui? Esse foi o início. Mas a espera entre a recepção da notícia e a viagem pareceu interminável, porque enquanto não entrasse no avião não passava de uma promessa e uma verdade inacreditável. Mas basta de falar sobre o pré-América (sim, claro que há um pré e um pós América!!)

Entre voos adiados, esperas no aeroporto (por perder o avião – eu consegui perder-me no aeroporto e logo de seguida perder o voo) e uma mala perdida (como se não bastasse já ter perdido o voo) lá cheguei! O primeiro choque cultural deu-se logo no aeroporto, nota: os americanos cumprimentam-se com um apertar de mãos, já ia eu lançada para os típicos dois beijinhos e… sou travada…  estamos a sempre a aprender! Passou a ser um dos aspectos com os quais mais brincava enquanto lá estive…

A expectativa para ver a residência, conhecer as pessoas e aproveitar o momento era enorme! Assim que entrei no quarto vi-me presenteada com a mais querida das cartas de recepção e uma secretária com chocolates e livros para mim. E não sabia eu que este era apenas o primeiro dos muitos gestos de ternura que os program assistants partilharam connosco.

 A residência tinha condições muito boas e o primeiro jantar foi uma pizza gigante (no mínimo…). O primeiro contacto com o campus da universidade de Indiana foi apenas na manhã seguinte, ao ir para a Kelley School of Business onde tínhamos as nossas aulas. Um dos campus mais bonitos da América, lá diziam eles, mas…UAU, é a verdade, confirmo!

Se nos dois/três primeiros dias estranhei e não sabia bem qual era o meu lugar, ao quarto dia, no 4 de Julho já me sentia parte de um todo maior que eu. Este feriado foi festejado assistindo ao já típico cortejo, seguindo-se uma visita ao farmers Market e terminando com um jantar no qual a maçaroca de milho e o hambúrguer não faltaram. 25 minutos de fogo de artifício foi o que se seguiu! Nos Estados Unidos tudo é grande, até o tempo dos festejos!

Tive três semanas para desenvolver um projecto para implementar em Portugal, no final fizemos uma apresentação não só a um júri composto por professores da universidade assim como, já em Washington, ao Departamento de Estado dos Estados Unidos da América. Ao longo do projecto fui sendo acompanhada por uma mentora e não foram poucos os professores que se ofereceram para nos ajudar no que precisássemos.

Entre as aulas, os passeios pela baixa da cidade, visitando lojas vintage ou experimentando as diferentes cozinhas do mundo, havia tempo para fazer voluntariado na Community Kitchen, para o fantástico ginásio (aventurei-me numa aula de zumba e noutra de yoga… mais não digo!), para um peddy papper pelo campus ou um mergulho na piscina exterior! Encontramos ainda um Yellow Bus, não faltando a típica selfie com a motorista e o autocarro. Ah, e ainda descobri que não sou lá muito boa em canoagem, Griffy Lake demonstrou isso… Mas, adoro caminhadas e adorei o dia que passámos em Bradford Woods (desafios ao ar live para fortalecermos as nossas relações enquanto equipa).

Mais ainda, visitámos várias organizações sociais onde os responsáveis nos deram o seu testemunho sobre o que é gerir uma organização, quais os problemas que enfrentam, porque o fazem e como vêem os resultados do seu trabalho. Não teria sido a mesma experiência se não tivéssemos tido esta componente de visitas tão forte. Espreita algumas delas: Middle Wayhouse, Timmy Global Health (em Indiana), United Saints (New Orleães), Grameen Foundation e First Book (em Washington).

Ainda em Bloomington tive oportunidade de passar um fim-de-semana com uma host family! Uma coisa é certa, saí do fim-de-semana a conhecer bem melhor a igreja Mormon!! Mas pude ainda ir ao cinema, cozinhar uns American cookies, aprender a tocar piano, familiarizar-me com o gato, a cadelita e a chinchila e trocar imensos pontos de vista!

Quando dás por ti, as três primeiras semanas já passaram e estás a caminho de Nova Orleães. Foi há dez anos que o Furacão Katrina por lá passou, mas ainda nos dias que correm vemos a cidade a reconstruir-se. De certa forma, também nós fizemos parte disso ao nos voluntariarmos um dia para reconstruir uma casa, com a organização United Saints. Foi também na cidade do Jazz que provei os típicos beignets, caminhei junto ao Missouri e percorri a Bourbon Street com as suas luzes nocturnas e ambiente festivo. Ao fazê-lo não pude deixar de ficar surpreendida com a dura realidade e o número de sem-abrigos que em cada esquina tinham de dormir…

Washington, o que dizer de Washington! Aquele momento em que sentes o peso de teres sido escolhida para um programa financiado pelo Departamento de Estado. Vais apresentar o teu projecto e sentes os nervos à flor da pele, mas é o teu momento, tens é de aproveitá-lo. Foi isso mesmo que fiz, aproveitei o momento e não me vou esquecer dele! Depois, perdi-me nas calmas ruas da capital, vendo o edifício do FBI e a Casa Branca; maravilhei-me com a grandiosidade do Capitólio e do Smithsonian (com os museus do Espaço e do Ar e o de História Natural) e por fim, arrepiei-me com os memoriais: Abraham Lincoln, guerra do Vietnam, Martin Luther King. Saber que estás no mesmo local onde em 1963 Martin Luther King fez o discurso “I have a dream” que 52 anos depois continua a ser marcante…

Mas uma coisa é mais que evidente, as pessoas fazem desta viagem aquilo que ela é: fantástica, memorável e sem sombra de dúvidas uma das melhores e mais enriquecedoras experiências que tive. Pessoas que já mostraram que fazer a diferença está nas nossas mãos, pessoas que te ensinam a acreditar mais em ti, pessoas que te mostram que sim, és do tamanho dos teus sonhos. Pessoas que de outra forma não terias conhecido. Amigos para a vida.

Se no início disse que o mais difícil era começar, oh não, mentira, o mais difícil foi que tivesse de acabar e tão depressa! Entre abraços, cartas e um sentimento de que aquele não era o fim de uma jornada, tens de te despedir. Voltas para Portugal, mas é certo que uma parte de ti fica com os teus novos amigos e uma parte deles está contigo. A magia continua quando ao voltares, as longas conversas, as memórias e as fotos continuam presentes. Sim, é mesmo verdade, belisquem-me que estou a escrever este texto hoje e fui uma sortuda por ter tido esta oportunidade.

Já me estendi nas palavras e ainda tanto ficou por dizer! Não deixes escapar esta viagem e tudo o que dela vem. Arrisca, porque como também já se diz “o sonho de hoje é a realidade de amanhã”. Não te esqueças, também tu “és do tamanho dos teus sonhos”!

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