Mara Sousa
«Perseverança. Foi o ser perseverante que me permitiu experienciar o que agora relato: uma experiência que me ensinou que, afinal, os meus conceitos de persistência e de tenacidade estavam muito aquém da verdadeira perseverança, daquilo que realmente podemos alcançar quando somos determinados e apaixonados por aquilo que fazemos.
O meu nome é Mara, tenho 19 anos e acabara de concluir o segundo ano de Línguas e Relações Internacionais, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, quando fui escolhida para participar no programa 2014 Summer Institutes for European Student Leaders nos Estados Unidos, durante cinco semanas – a concretização de um objetivo já há muito idealizado. O empreendedorismo social fascinou-me desde que tomei conhecimento deste conceito. A oportunidade de desenvolver uma ideia de negócio com um propósito social, capaz de ser, não apenas financeiramente sustentável e lucrativa, mas, também, geradora de um forte impacto social numa comunidade local ou regional, deparou-se sob os meus olhos como a simbiose perfeita. Canalizar a busca pelo lucro, a competitividade, o espírito capitalista e a busca pela inovação – intrínsecos ao mundo do empreendedorismo, das start-ups e da economia neoliberal em que hoje vivemos -, e dar-lhes um fim altruísta, pró-ativo e gerador de mudanças significativas, é um dos melhores exemplos da forma como a ação do Homem para com o planeta em que habita e os restantes indivíduos seus semelhantes, é pautada por nada mais do que intenções de várias índoles. Neste sentido, aquilo a que geralmente associamos um comportamento selvagem e puramente racional do homo economicus dos tempos modernos, pode, no entanto, ser a forma mais eficiente para a resolução das grandes crises que assolam os países subdesenvolvidos e desenvolvidos, que minam o progresso económico-social sustentável, e a que os governantes e o sector público, por si só, não conseguem dar resposta.
Como aluna de Relações Internacionais, algumas das áreas que sempre me interessaram foram o desenvolvimento e a implementação de políticas sociais, a ação dos atores não governamentais, a cooperação e o desenvolvimento, e a gestão de conflitos em países instáveis. Em todas elas há algo em comum: os eventos, esforços, ações, investigações e negociações que se desenvolvem no seu âmbito estão dependentes de conflitos de interesses, de fundos monetários substanciais, e da maior ou menor flexibilidade e apoio da comunidade internacional. No entanto, para todos estes problemas, existe uma eventual solução bastante simples e arrojada: a iniciativa privada sob a forma do empreendedorismo social. Foi esta área de interesse que motivou a minha candidatura ao programa.
As cinco semanas passadas nos EUA permitiram-me compreender que para além disto existe muito mais. O empreendedorismo social é um conceito complexo que abre infinitas oportunidades (como, por exemplo, a opção pelo desenvolvimento de projetos sem fins lucrativos ou centrados no voluntarismo), e cuja implementação exige um conhecimento significativo nas áreas das políticas públicas, marketing, economia, gestão de operações, contabilidade, story-telling, angariação de fundos e competências de comunicação. Todavia, aquilo que, para mim, é mais fantástico no empreendedorismo social e foi genuinamente interessante de descobrir, é o facto de que, por vezes, grandes males podem ser resolvidos com ideias bastante simples, isto é, por vezes, a solução para um problema passa por ações simples que talvez tenham sempre estado à nossa frente. No fundo, é tudo uma questão de inovar, de reinventar, da passibilidade de re-utilizar os meios que já existem e atribuir-lhes um novo sentido, um novo conceito, algo que o empreendedores sociais fazem de forma brilhante e eficiente. Think outside the box, como tantas vezes ouvi.
Ao longo das cinco semanas, tive a oportunidade única de experienciar diversos aspetos da cultura americana (no meio académico mas também quotidiano), algo que foi extremamente enriquecedor e permitiu desconstruir estereótipos e conhecer uma mentalidade e um estilo de vida que me maravilharam. A ética profissional americana, a atitude face aos compromissos, a hospitalidade, a pró-atividade, os valores e a amabilidade deixaram-me positivamente impressionada e merecem ser salientados. Pude, também, assistir a aulas com professores reputadíssimos, detentores de currículos impressionantes e especialistas em diversas áreas, visitar empresas e projetos locais, fazer voluntariado, e desenvolvi dois projetos: um individual, cujo objetivo passava pelo desenvolvimento de um ideia de negócio que atacasse um problema social do meu país ou comunidade; e um outro de grupo que consistia na realização de um projeto de consultadoria para problemas reais de uma empresa social local.
Este foi o segundo ano em que a Kelley School of Business da Indiana University organizou e promoveu o programa curricular deste summer institute, que, apesar de recente, revelou uma organização fenomenal. Todos os envolvidos neste programa (professores, mentores, staff, etc.), com a sua dedicação e empenho, foram uma parte fundamental e imprescindível desta experiência. Permitiram que as atividades, aulas e eventos deste programa decorressem da melhor e mais eficiente forma possível em termos logísticos (o que nos permitiu disfrutar calmamente de toda a experiência); e foram, principalmente, os intermediários de relações humanas interculturais verdadeiramente enriquecedoras, pessoas com quem aprendi e partilhei momentos inesquecíveis.
O programa 2014 Summer Institutes for European Student Leaders desenvolvido pelo Departamento de Estado Norte-Americano e promovido admiravelmente pela Comissão Fulbright, é um dos institutos de verão mais seletivos, competitivos e prestigiados do mundo e é com bastante orgulho e honra que, de ora em diante, o incluo no meu currículo como o ponto alto do meu percurso académico, algo que, sem dúvida, me abrirá imensas portas e, por esta razão, não poderia sentir-me mais orgulhosa e privilegiada. No entanto, esta foi, também, uma marcante experiência de crescimento pessoal. Fazer parte de um grupo de 20 excecionais estudantes de 13 países europeus constituiu um verdadeiro desafio. Estar entre “os melhores dos melhores” foi, acima de tudo, absolutamente inspirador, pela oportunidade de aprendizagem e de partilha de conhecimentos e de experiências que gerou. Mas, mais do que isso, houve um fator que desempenhou um papel muitas vezes determinante: o fator da interculturalidade. A possibilidade de interagir com jovens provenientes de diferentes culturas, com históricos muito particulares, e, acima de tudo, mentalidades e posturas profissionais e pessoais diferentes e, por vezes, até opostas, tornou esta experiência exponencialmente mais interessante, desafiadora e inspiradora. Para além da cultura americana, totalmente nova para mim, pude (re)descobrir o meu próprio continente, aquilo que une e distingue as várias nacionalidades europeias.
Como seria de esperar, a competitividade esteve, muitas vezes, presente. Os projetos nem sempre correram bem, houve vários momentos de dúvida e de frustração que, no meu caso, conduziram a uma imensa ânsia e vontade de dar sempre o meu melhor e de ser o mais perfecionista possível, sobretudo devido à consciência de que a minha estadia tinha um período de tempo muito limitado e que, portanto, deveria dar o meu máximo para aproveitar e aprender com os desafios e com a oportunidade que me fora proporcionada. E, ao olhar para trás, vejo que tudo isto foi incomensuravelmente positivo e enriquecedor para mim, pois permitiu-me aprender e crescer imenso num tão curto espaço de tempo. Nada disto teria sido possível se não tivesse sido perseverante, se não tivesse sido suficientemente persistente para absorver todo o conhecimento e experiência académica que me foram oferecidos, e se não tivesse mantido uma mente aberta para partilhar experiências e aprender com todos os fantásticos jovens que conheci. Embora diferentes em alguns aspetos, desenvolvemos parcerias e amizades que durarão certamente, e descobrimos semelhanças e pontos em comum que nos uniram de forma surpreendente.
No fim, aquilo que fica é um enorme sentimento de satisfação e orgulho. Satisfação pelos excelentes resultados obtidos, por tudo aquilo que descobri e aprendi, pelas pessoas com quem tive o privilégio de interagir, pelo país que tive a oportunidade de conhecer. E assim, desejo que os próximos representantes portugueses a participar neste programa o possam usufruir da mesma forma. Com votos de boa sorte e a garantia de que não se arrependerão, deixo, assim, o meu apelo final: sejam perseverantes e não deixem de se candidatar!»
Mara Sousa
Setembro de 2014