«Sentada na relva sintética, bem no centro do Estádio dos Hoyas, na Universidade Georgetown, penso em como tudo começou…            

No dia 3 de Julho partia para a maior aventura da minha vida. Só entendi que aquilo que estava a viver era real enquanto aterrava no aeroporto de Newark. Ao longe, vi um school bus amarelo e uma carrinha da FedEx e tive imediatamente uma sensação de ansiedade tremenda. Sentimentos borboleteavam dentro da minha barriga. Assim que desci, o primeiro impacto foi a língua. Assimilar que todos à minha volta falavam inglês levou-me a sair da “bolhinha” de conforto, e transportou-me para uma zona de mim mesma que desconhecia. Falar inglês era, de repente, uma questão de sobrevivência, e passou, muito facilmente, a ser algo natural.

Após ter conhecido imensa gente, já nos aeroportos, chego a Kansas City para conhecer ainda mais gente fantástica e, desta vez, as pessoas com quem iria viver 5 semanas. Três horas de carro distanciavam-me de um dos locais mais felizes dos Estados Unidos da América, Manhattan – “The Little Apple”. Chegar a esta cidade foi uma explosão de sensações. Cheguei no dia 4 de Julho, um bocadinho atrasada, pelo que o céu esteve coberto de um manto brilhante e instável de fogo-de-artifício enquanto viajava pelas estradas intermináveis do Kansas.

Quando cheguei era demasiado tarde para conhecer os 18 estudantes europeus com quem iria viver esta jornada inesquecível. Mas o alarme de incêndio não quis que assim fosse, e às 2h da manhã toda a gente que estava em Moore Hall teve que sair para a frente do edifício. Foi assim que conheci as minhas “almas gémeas” europeias, ensonadas e de pijama. Eu, tímida, com uma camisola dos Broncos, sem dormir por mais de 24h (porque uma das malas chegaria no dia seguinte e o pijama era emprestado), lá me apresentei: “Hello, I’m Joana, I’m from Portugal”. E foi esta a frase que iniciou tantas amizades e tantos encontros fascinantes com pessoas que ultrapassam ainda mais a própria ideia que a palavra “fascinante” contém.

No dia seguinte, o “ropes course” e a visita ao campus da Kansas State University onde tudo, mas mesmo tudo, é roxo (os nachos são roxos, as matrículas são roxas…). Um local onde o espírito académico vai muito além do que se vê nos filmes. Um local para aprender que transporta em si muitos mais sentidos.

Nas semanas seguintes seguiram-se field trips praticamente todos os dias. Tive a oportunidade de conhecer cidades como Lawrence, Salina, Topeka, Greensburg, Hutchinson, Burlington, Kansas city, e até uma vila Amish (nunca na vida imaginaria), tudo para visitar instituições norte-americanas que suportavam a teoria dada nas aulas.

Aulas essas sobre variadas temáticas. Desde logo sobre sustentabilidade, direito ambiental, sobre o funcionamento da legislação regional nos Estados Unidos na área do ambiente, sobre geração e conservação de energia, sobre algumas infraestruturas “verdes” exemplares, e até nos foi dada a oportunidade de ver, localmente, as regulações ambientais nalgumas instituições bem conhecidas. Para além disso, aprendemos sobre conservação de água, ambientalismo indígena, e sobre sustentabilidade na agricultura. Nunca esquecendo a consciencialização primária de que as escolhas que fazemos têm sempre um impacto e portanto, primariamente, tudo depende de nós. Uma das características do programa que mais me impressionou foi, para além das temáticas ambientais, a forte vertente de liderança e necessidade de pró atividade nas nossas vidas.                                                                             

Eram estes os meus pensamentos no último dia que vivia nos Estados Unidos da América: tudo o que tive a oportunidade de aprender. Todos os momentos que vivi com um grupo fantástico. Aparecer com eles num ecrã gigante, a dançar, no nosso primeiro jogo de baseball. Ver o nascer do sol na Konza Prairie às 5h30 da manhã. Ir a Fort Riley, visitar o EPA, o Capitólio de Topeka e conhecer o governador do Kansas. Visitar uma central nuclear. Ver constelações que nunca vi do “outro lado”, sentada em grandes rolos de palha e correr no meio do milho. Fazer voluntariado, limpando trilhos de parques naturais, e sentir o que é o verdadeiro espírito de comunidade. Comer Lays e Doritos acabados de fazer, pegar em peixes e identificá-los. Comemorar 20 anos no Kansas com amigos que nunca vou esquecer, num restaurante de sushi numa rua de Aggieville, com uma festa “surpresa” à minha espera.

Estar no campus de uma das melhores Universidades do mundo no último dia que vivi nos Estados Unidos, não foi em vão. Estar ali, com pessoas que cunharam a minha vida para sempre, por alguma razão, fez-me pensar que apesar de este sonho ter sido concretizado, há muitos mais que passam por ali e ali ficaram, plantados. A K-state deu-nos o sonho de voltar a estudar numa instituição norte-americana. Lá realizei e idealizei mais sonhos. E estar em Georgetown no último dia, num local com que tantos sonham, fez-me sonhar bem alto.

Mas é injusto falar apenas nos locais, se realmente esta jornada ficou marcada por todas as pessoas maravilhosas que conheci. Pessoas inspiradoras, é sempre a palavra mais adequada, com quem partilhei ideias, sentimentos e sonhos, muitos sonhos.                                                              

Serão estes 18 estudantes as minhas almas gémeas espalhadas por essa Europa fora. Porque, de facto, encontrei neste grupo pessoas genuinamente parecidas comigo nas suas individualidades.

E é inevitável fazer referência a personalidades como a do Wes Jackson, do Dr.Wildcat, do ex-Mayor Bruce Snyder, do Jason Fields, que tive o privilégio de conhecer. E mais do que ninguém, é impossível esquecer o David e a Kristina, (e a fabulosa esposa do David, Mary) que foram as pessoas que organizaram todo o programa ao pormenor, bem como os mentores que foram, sobretudo, amigos. Amigos que nos deram a conhecer as suas famílias, o seu passado e os seus sonhos. E, ainda, as minhas três “famílias de acolhimento”, inesquecíveis.

Após bastante gelado de cookie dough, espargos grelhados, comida mexicana, muito, mas mesmo muito sushi, 5 quilos a mais, muito square dancing, 25 amigos para a vida, alguma experiência empírica, 20 business cards de pessoas inspiradoras, uma boa dose de coragem, e toneladas de vontade de aprender e tornar o mundo num local melhor, com muita pena minha, e vestindo o papel da Dorothy, digo suspirando: “We’re not in Kansas anymore”.

(Em baixo está um vídeo que explica algumas das emoções deste Summer Institute. Por questões de direitos de autor, o vídeo não tem a música que originalmente o acompanhava. Se quiserem ver, coloquem-na ao mesmo tempo: Ben Howard – Keep your head up)»

https://www.youtube.com/watch?v=o0b_5ttZeAA

https://www.youtube.com/watch?v=ADP65wbBUpc

Joana Assembleia

Setembro de 2014

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