
Ana Isabel Xavier
Foi no último dia do ano de 2012 que chegou por telefone a confirmação de um desejo acalentado nas últimas semanas: após a candidatura escrita, a entrevista oral, a seleção pela Fulbright Portugal e Embaixada dos EUA em Portugal, o State of Department em Washington dava a luz verde para partir rumo ao Programa SUSI – Study of United States Institute. Durante seis semanas, atribuladamente adiadas por umas horas pelo furacão Nemo, as aprendizagens fizeram-se com dezassete colegas Professores Universitários, Políticos, Diplomatas, Investigadores, Técnicos de Organizações não-governamentais provenientes de Omã, Turquemenistão, Gana, Micronésia, Botswana, Paquistão, Azerbaijão, Venezuela, Afeganistão, Eslováquia, Israel, Serra Leoa, Indonésia, Vietname, Ucrânia, Caxemira e Lituânia.
O programa teve como base o Institute for Training and Development, na pacata e gelada Amherst (Massachussets), onde frequentámos conferências diárias sobre National Policymaking e Homeland Security. Para aprofundarmos os nossos conhecimentos, visitámos Cambridge, Boston, Nova Iorque, Washington e San Diego, onde as reflexões sobre a China, a política dos Drones e a crise económica Europeia dominaram nos debates. No total, cerca de 50 palestras e mais de 10 visitas a Universidades e Think Tanks de reputação internacional reconhecida. Na última semana, foram apresentadas publicamente as nossas reflexões pessoais sobre o tema do programa, estando para breve a publicação dos textos de todos os participantes, entre os quais “Global Governance and the quest for a multilateral engagement: insights and prospects on the EU and U.S. “virtuous triangle” da minha autoria.
O regresso a Portugal foi emocionalmente ansiado mas também doloroso pelas memórias e pessoas que ficam para trás e que não sabemos se nem quando vamos reencontrar. O regresso à “realidade” foi nos primeiros dias marcado pelo jet lag das emoções, da diversidade de línguas e culturas, pela vontade de manter o contacto e de voltar.
Tendo sido esta a minha primeira estadia nos EUA, o balanço em termos pessoais e profissionais é extraordinariamente positivo e, à medida que as semanas de ausência passam, mais consciente do privilégio e honra em ser escolhida me sinto. Conheci pessoas fantásticas, privei com professores que apenas acompanhava pela leitura atenta e que nunca pensei conhecer (como Joseph Nye e Moisés Naim), visitei sítios incríveis, tornei-me muito mais confiante a escrever e produzir pensamento em inglês, aprendi muito, reforcei interesses de investigação, descobri parceiros internacionais com quem posso desenvolver projetos e publicar em conjunto, tornei-me menos europeia, descobri mundo e redefini projetos futuros de docência e investigação a pensar também no “outro lado do atlântico”. O objetivo do programa nas suas duas principais valências está a ser concretizado a cada dia que passa e vai fazer parte do meu processo de aprendizagem ao longo da vida: reforçar a consciência sobre a política e a sociedade americana; disseminar os conhecimentos adquiridos através de aulas, publicações e projetos.
Assim, para mim, o programa SUSI representou sobretudo um início, fazendo parte agora da minha rotina acompanhar oportunidades que me permitam um dia regressar aos EUA, certa que a honra que me foi concedida será uma responsabilidade que espero estar sempre à altura de merecer recordar.
* Professora Universitária e Investigadora de Pós Doutoramento no NICPRI – Núcleo de Investigação em Ciência Política e Relações Internacionais